A indústria brasileira emite um alerta sobre os danos que a cadeia cafeeira enfrentará se o café brasileiro deixar de ser importado pelos EUA.
“É bem conhecido que o blend norte-americano historicamente depende do café brasileiro para assegurar padrão, qualidade, corpo, doçura e competitividade. Sempre foi assim. Contudo, a cada mês em que esse café não entra nos Estados Unidos, corremos o risco real de perder espaço para outras origens. Se esse espaço for ocupado, recuperá-lo no futuro pode levar anos”, destacou o diretor executivo da ABIC (Associação Brasileira da Indústria de Café), Celírio Inácio.
Desde agosto deste ano, quando a tarifa imposta pelo então presidente Donald Trump sobre as importações de café brasileiro começou a vigorar, as exportações do produto para os Estados Unidos têm enfrentado quedas constantes. A sobretaxa tornou o café brasileiro menos competitivo no mercado americano, resultando em cancelamentos de contratos por parte de importadores e torrefadores locais, que passaram a buscar alternativas mais financeiramente viáveis em outros mercados.
De acordo com Inácio, esse movimento representa uma ameaça direta à participação do Brasil no mercado, afetando a competitividade e até mesmo a relevância histórica do nosso país no maior mercado consumidor do mundo. “A médio e longo prazo, o impacto é significativo. Os torrefadores americanos começam a ajustar seus processos, contratos e padrões sensoriais, o que pode levar a uma substituição estrutural do nosso produto nesse mercado. O café brasileiro sempre foi parte do paladar dos americanos, e é isso que precisamos preservar”, explicou.
Marcos Matos, diretor geral do Cecafé, também expressa a preocupação em relação aos EUA, que estão estabelecendo relações comerciais e contratos de longo prazo com nossos concorrentes. “O consumidor já está se acostumando com novos parâmetros sensoriais em termos de qualidade, ou seja, com o que é diferente dos nossos cafés. Isso, para nós, representa não apenas um prejuízo agora, mas pode se tornar um prejuízo ainda maior no futuro, podendo ser até irreversível”, ressaltou.
Segundo Márcio Cândido, presidente do Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé), atualmente os estoques de café brasileiro nos Estados Unidos são escassos e apresentam níveis extremamente baixos, levando até mesmo os consumidores americanos a optarem por bebidas que não contêm o grão brasileiro no blend. “Para nós, isso é um risco muito grande. Portanto, é mais do que uma necessidade; é urgente que retomemos esse mercado, pois vislumbramos para o próximo ano uma recuperação na produção mundial do Brasil, Colômbia e outras origens, como o Vietnã, claro, sem acidentes climáticos. Não podemos, de forma alguma, abrir mão do maior mercado consumidor e nosso principal importador, onde respondemos por 33% de todas as compras”, enfatizou Cândido.
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