A chegada dos cafés da nova safra brasileira evidenciou os efeitos dos atrasos nos portos nacionais e nas rolagens de cargas. A saturação da infraestrutura portuária tem gerado prejuízos crescentes para os exportadores, que enfrentam dificuldades operacionais para escoar a produção.
Em setembro de 2025, de acordo com uma pesquisa do Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé), 939.494 sacas de café — o que corresponde a 2.848 contêineres — não conseguiram ser embarcadas, resultando em perdas financeiras de R$ 8,99 milhões devido a custos adicionais de armazenamento, pré-stacking e detentions.
Esse é o terceiro maior prejuízo histórico já registrado pelo setor, ficando atrás apenas dos de novembro (R$ 11,9 milhões) e dezembro (R$ 9,2 milhões) de 2024.
A não realização do embarque desse volume impediu a entrada de US$ 348,29 milhões (R$ 1,869 bilhão) em receita cambial, considerando o preço médio de exportação de US$ 370,72 por saca e a taxa de câmbio média de R$ 5,3668 no período.
Atrasos nos portos expõem gargalos logísticos e ampliam prejuízos
Conforme Eduardo Heron, diretor técnico do Cecafé, a situação ressalta a urgência de aumentar a capacidade logística do país e desbloquear investimentos portuários.
“Para que o cenário não se agrave ainda mais, é essencial aumentar a oferta de capacidade de carga e diversificar os modais de transporte, além de realizar investimentos urgentes em infraestrutura e acessos portuários. Enquanto entraves burocráticos, como a demora na realização do leilão do Tecon Santos 10, persistirem, os exportadores continuarão a acumular prejuízos e os cafeicultores receberão menos receita”, enfatiza.
Heron observa que, em outubro, o Cecafé e a Associação Logística Brasil emitiram um comunicado pedindo agilidade no leilão do terminal Tecon Santos 10, com ampla participação e sem restrições para interessados, a fim de evitar judicialização e novos atrasos na oferta de capacidade portuária.
TCU aponta ilegalidade em restrição de leilão
O tema ganhou destaque após a Unidade de Auditoria Especializada em Infraestrutura Portuária e Ferroviária (AudPortoFerrovia), do Tribunal de Contas da União (TCU), publicar um parecer de 203 páginas, classificando como “ilegal” a proposta de leilão em duas fases, com restrição à participação de operadores já atuantes no Porto de Santos.
Segundo o relatório, a decisão da Agência Nacional de Transportes Aquaviários (ANTAQ) viola os princípios constitucionais da ampla concorrência e da proporcionalidade, baseando-se em “riscos e premissas hipotéticas”. A auditoria reforçou que o certame deve ser realizado em fase única e sem limitações, priorizando o interesse público e a eficiência logística nacional.
“Se o relatório técnico do TCU já aponta ilegalidade nas restrições, qual a justificativa para impedir a participação de operadores experientes e capazes de atender eficientemente às cargas?”, questiona Heron. “O comércio exterior necessita de decisões fundamentadas tecnicamente, que fortaleçam a economia e assegurem competitividade ao agronegócio.”
Prejuízos atingem todo o agronegócio
O Cecafé tem mantido diálogo com outros setores exportadores — como açúcar, algodão e celulose — que também enfrentam os mesmos problemas logísticos. A entidade reitera que a falta de infraestrutura adequada compromete a competitividade de todo o agronegócio brasileiro e diminui o potencial de arrecadação do país.
“Os setores que lidam com cargas conteinerizadas precisam de uma logística eficiente para desbloquear o Porto de Santos. A indefinição sobre o leilão atrasa investimentos e prolonga os prejuízos”, alerta Heron.
O diretor técnico defende a realização do leilão do Tecon Santos 10 de forma irrestrita e ainda em 2025, ou no máximo no primeiro trimestre de 2026, para assegurar o aumento da oferta de capacidade e reduzir as perdas financeiras dos exportadores.
Raio-X dos atrasos
Em setembro, 57% dos navios (202 de 355 embarcações) registraram atrasos ou alterações de escala nos principais portos do país, segundo o Boletim DTZ, elaborado pela startup ElloX Digital em parceria com o Cecafé.
O Porto de Santos, responsável por 79,3% dos embarques de café entre janeiro e setembro, teve uma taxa de 75% de atrasos, com períodos de espera de até 35 dias em alguns casos.
Por sua vez, o complexo portuário do Rio de Janeiro, o segundo maior do país (16,9% das exportações), apresentou 44% de atrasos, com navios aguardando até 63 dias entre o primeiro e o último prazo.
Adesão ao Boletim DTZ
O relatório completo sobre as exportações dos cafés do Brasil, incluindo os números finais de setembro de 2025, está disponível no site do Cecafé: https://www.cecafe.com.br/.











