A produção brasileira de café robusta pode ultrapassar a do Vietnã, segundo previsões do Rabobank.
Nos últimos anos, a produção de café robusta no Brasil tem apresentado um crescimento considerável. Para 2025, a safra dessa variedade está projetada em 20,1 milhões de sacas beneficiadas, o que representa um aumento de 37,2% em comparação à safra anterior, de acordo com dados da Conab (Companhia Nacional de Abastecimento). Esse resultado positivo é atribuído à melhor regularidade climática em momentos críticos para as lavouras, que favoreceu parte das floradas, além da boa formação de frutos por rosetas, especialmente no Espírito Santo, que responde por 69% da produção de conilon/robusta no país.
De fato, a variedade robusta demonstra maior resistência ao calor, à seca e a doenças em comparação ao café arábica, tornando-se cada vez mais resiliente diante das frequentes mudanças climáticas que afetam a produção de café no Brasil.
Um estudo do banco holandês Rabobank revelou que, em face das crescentes incertezas climáticas, os produtores brasileiros têm investido na irrigação como uma solução estratégica para aumentar a produtividade. No caso do café robusta, a irrigação já desempenha um papel crucial na expansão e modernização das lavouras. O estudo aponta que, atualmente, cerca de 71% das plantações de robusta no Brasil são irrigadas, e as projeções indicam que essa área pode alcançar 363.800 hectares até 2040.
Embora os custos operacionais da produção de robusta sejam mais altos devido à sua natureza intensiva em mão de obra e à dependência de irrigação, sua produtividade significativamente superior, quase 170% maior por hectare em relação ao arábica, ajuda a equilibrar esses gastos.
“Em um mercado global cada vez mais afetado pela volatilidade climática, as características intrínsecas do robusta, aliadas à capacidade do Brasil de cultivar em grande escala, posicionam o país para oferecer um fornecimento mais estável e confiável. O Brasil possui todo o potencial para se consolidar como o principal protagonista global no mercado de café robusta”, acrescenta o estudo do banco holandês.
O Censo Agropecuário de 2017, realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), revela que o Brasil conta com aproximadamente 76.000 produtores de café robusta, sendo que quase 86% deles operam fazendas de até 50 hectares, evidenciando a predominância de pequenos e médios produtores que representam cerca de 56% da produção nacional.
Conforme o analista de mercado da Safras & Mercado, Gil Barabach, o café robusta tem apresentado um aumento significativo em produtividade, especialmente no Espírito Santo, ao longo dos últimos anos. “Durante uma seca severa, muitos produtores aproveitaram para renovar suas lavouras envelhecidas, implantando novas plantações com sistemas produtivos diferentes. Isso proporcionou um aumento na produtividade. Embora ainda estejamos investindo, há espaço para expandir a produção de robusta, especialmente com os preços elevados que essa variedade alcançou atualmente”, explicou o analista.
Para Gil, a variedade que frequentemente aparece em blends também tem grande potencial e está cada vez mais voltada para a exportação. “O crescimento do consumo de café na Ásia é uma boa notícia, pois se alinha com a expansão da produção de conilon/robusta no Brasil”, projetou.
No entanto, para Vicente Zotti, consultor e sócio diretor da Pine Agronegócios, a variedade pode representar uma nova dinâmica de demanda interna. “Como estamos mantendo um potencial produtivo superior ao do arábica nos últimos anos, o robusta pode atender uma parte significativa da demanda interna de café que antes era suprida pelo arábica. Podemos observar um aumento diário da produção de robusta no parque cafeeiro no próximo ano. Onde há capacidade e logística, há potencial para aumentar a produção”, completou Zotti.
Dados da Embrapa destacam que o Brasil possui cerca de 28 milhões de hectares de pastagens degradadas que podem ser convertidas para agricultura, sem a necessidade de desmatamento. Isso abre novas possibilidades para a expansão do café robusta de maneira mais sustentável no país nos próximos anos.










