Atualizado em: 20/10/2025 Café Arábica Bebida Dura tipo 7: R$ 2.150,00 Café Arábica Rio 7: R$ 1.650,00 Conilon tipo 7: R$ 1.350,00
Atualizado em: 20/10/2025 Café Arábica Bebida Dura tipo 7: R$ 2.150,00 Café Arábica Rio 7: R$ 1.650,00 Conilon tipo 7: R$ 1.350,00
Café fecha terça-feira com recuos de mais de 1% nas bolsas

Torrefadores americanos esgotam reservas de café enquanto aguardam um pacto comercial…

 

Por Marcelo Teixeira e May Angel

NOVA YORK (Reuters) – Torrefadores de café nos Estados Unidos estão reavaliando seus estoques enquanto aguardam o desfecho das negociações comerciais entre os EUA e o Brasil, que podem definir se terão que arcar com custos significativamente mais altos por fontes alternativas de café.

O café brasileiro, que representa um terço dos grãos consumidos nos EUA, maior consumidor de café do mundo, foi excluído do mercado norte-americano desde agosto, quando o governo do então presidente Donald Trump impôs uma tarifa de importação de 50% sobre os grãos do Brasil, em uma situação que mesclou comércio e política.

Trump acusou o Supremo Tribunal Federal do Brasil de tratamento desigual em relação ao seu aliado, o ex-presidente Jair Bolsonaro.

A tarifa sobre o café, entre outros produtos brasileiros, foi amplamente interpretada como uma retaliação ao governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, sucessor de Bolsonaro. Posteriormente, Bolsonaro foi considerado culpado de orquestrar um plano de golpe de Estado.

Até agora, a elevada tarifa causou danos ao setor cafeeiro dos EUA, que movimenta US$340 bilhões, resultando em importadores com carregamentos de café brasileiro retidos, torrefadoras pagando taxas para cancelar entregas e consumidores desembolsando até 40% a mais por sua bebida matinal.

Os estoques devem alcançar níveis críticos em dezembro, aumentando a pressão sobre os torrefadores e as cadeias de café para que encontrem substitutos a preços que ainda permitam algum lucro.

Algumas torrefadoras precisaram arcar com a tarifa de 50% sobre embarques de café brasileiro que já estavam reservados quando o novo imposto foi anunciado. Outros estão redirecionando o café destinado aos EUA para outros países para evitar as tarifas.

“O que ocorre com essa tarifa é que não se trata de reciprocidade ou comércio, é punitiva, política e pessoal. É entre Trump e Lula”, afirmou Steven Walter Thomas, proprietário da importadora norte-americana Lucatelli Coffee. “O Brasil não está pagando, eu estou — eu e meus clientes.”

REDIRECIONAMENTO PARA O CANADÁ PARA EVITAR TARIFAS

A Lucatelli Coffee importou US$720.000 em café brasileiro quando a nova tarifa já estava em vigor.

Quando o café chegou, a empresa armazenou-o em Jacksonville, na Flórida, em um armazém alfandegado, onde a carga pode ser mantida temporariamente sem a incidência de impostos de importação. No entanto, se a Lucatelli decidir vendê-lo nos EUA, a tarifa de importação de 50% será aplicada.

Thomas, cujos clientes incluem cadeias de restaurantes de médio porte, como a Brooklyn Water Bagel Company, da Flórida, mencionou que está enviando parte desse café brasileiro para o Canadá, arcando com altos custos adicionais de transporte, mas evitando a tarifa de 50% nos EUA.

“É um dilema: esperar e torcer por um acordo comercial ou enfrentar um desafio logístico para redirecionar o café para fora dos Estados Unidos”, comentou.

ALTERNATIVAS CARAS

Diversas torrefadoras norte-americanas chegaram a um consenso para cancelar pedidos de café brasileiro, conforme revelou um trader no Brasil que trabalha para um comerciante de café alemão e pediu para não ser identificado devido a uma cláusula de privacidade no contrato comercial.

A taxa que tiveram que pagar para cancelar esses negócios, segundo ele, foi em torno de US$20 a US$25 por saca de café de 60 kg, que atualmente vale cerca de US$515,00, sem incluir as tarifas.

Dessa forma, os torrefadores evitaram o alto imposto de importação de 50% sobre uma carga que custa cerca de US$250.000 por contêiner, mas acabaram ficando sem café.

“Temos estoques, mas eles estão se esgotando rapidamente”, disse Michael Kapos, executivo de vendas e marketing da Downeast Coffee Roasters, em Rhode Island, que atende pequenas e médias cadeias de café e mercearias na Costa Leste dos EUA.

A Downeast Coffee Roasters foi uma das empresas que conseguiu cancelar alguns pedidos, mas não todos.

Os termos do contrato estipulam que o comprador é responsável por quaisquer custos adicionais, como tarifas, que tenham sido impostos após o fechamento do negócio. Ambas as partes precisam concordar antes que um contrato possa ser cancelado, o que pode ser complicado se a carga já tiver sido carregada.

A empresa está testando outros cafés que poderiam substituir os grãos brasileiros em suas misturas, afirmou Kapos, mas isso teria um custo mais elevado.

Os preços de alternativas ao café brasileiro, incluindo grãos colombianos, mexicanos ou centro-americanos, subiram até 10% desde que os EUA anunciaram a tarifa em 9 de julho, devido ao aumento da demanda, enquanto os preços dos grãos brasileiros caíram cerca de 5%.

As torrefadoras norte-americanas estão evitando os grãos brasileiros o máximo que conseguem, revelou um negociante de café europeu que trabalha para uma grande trading internacional e também pediu para não ser identificado.

“Observamos, claramente, uma redução na quantidade de café saindo do Brasil para os EUA, isso é muito evidente, e os torrefadores estão utilizando todas as sacas que possuem”, disse o comerciante.

CAFÉ IMPULSIONA INFLAÇÃO NOS EUA

Os preços do café no varejo nos EUA têm aumentado constantemente desde o ano passado, quando os preços globais do café subiram 70%, e devem continuar a subir devido à escassez de oferta.

Os preços do café moído e torrado nos supermercados dos EUA aumentaram 41% em setembro em comparação ao ano anterior, alcançando uma média de US$9,14 por libra-peso, de acordo com dados do Bureau of Labor Statistics, contribuindo para a inflação local de alimentos.

Parte desse aumento de preços está relacionada ao aumento dos preços de referência do café devido à escassez de oferta provocada pela menor produção após problemas climáticos, e parte se deve às tarifas.

Os futuros do café arábica na bolsa ICE foram recentemente negociados próximos a um recorde histórico.

Os consumidores notaram.

“Não estou mais focando muito nas marcas. Estou à procura de promoções”, disse Sherryl Legyin, 52 anos, caixa de North Bergen, Nova Jersey, enquanto examinava o corredor de café em um supermercado em um dia de outubro.

“Gosto deste”, afirmou a agente de viagens Yasmin Vazquez, 40 anos, mostrando um pequeno pacote de café instantâneo Nescafé. “Costumava custar US$6 ou US$7, mas agora está sendo vendido por US$11. E parece que ficou menor”, acrescentou.

Comerciantes acreditam que o nível dos estoques nos EUA se tornará crítico por volta de dezembro.

“Acredito que eles têm cerca de 4 milhões de sacas em estoque no momento. Em dezembro, serão de 2,5 a 3 milhões, o que está próximo dos níveis mínimos”, disse o trader europeu.

Os EUA consomem cerca de 25 milhões de sacas de 60 quilos por ano, e o Brasil normalmente fornece cerca de 8 milhões dessas sacas.

O presidente brasileiro declarou esta semana que estava otimista quanto às perspectivas de um acordo comercial com os EUA, acrescentando que isso poderia ocorrer “mais rápido do que qualquer um imagina”.

Trump, no entanto, afirmou: “Não sei se algo vai acontecer, mas vamos ver”.

Enquanto isso, é provável que o preço de uma xícara de café nos EUA continue elevado.

(Reportagem de Marcelo Teixeira em Nova York e May Angel em Londres)