Por Roberto Samora
CAMPINAS (Reuters) – O grupo Tristão, um dos principais exportadores de café verde e solúvel do Brasil, planeja construir um armazém com capacidade para pelo menos 1 milhão de sacas de 60 kg nas proximidades de um novo porto no Espírito Santo, enquanto acredita que o estado capixaba pode, em alguns anos, superar a produção de grãos canéforas do Vietnã.
Se o Espírito Santo fosse um país, ele ocuparia a terceira posição entre os maiores produtores de café do mundo, ficando atrás apenas do Brasil e do Vietnã, com uma produção estimada pela estatal Conab em 16,4 milhões de sacas, embora alguns no mercado indiquem um número entre 18 e 19 milhões de sacas.
Atualmente, no Brasil, o estado ainda está atrás de Minas Gerais, que é o maior produtor de café do país. No entanto, os capixabas superam a produção da Colômbia, embora sua safra seja predominantemente de grãos do tipo conilon, uma variedade da espécie canéfora, que inclui o robusta, cultivado no Vietnã. Já os colombianos e mineiros são especializados no arábica.
“Não é impossível imaginar que, em cinco anos, o Espírito Santo esteja produzindo mais do que o Vietnã. Não é impossível”, afirmou à Reuters o presidente do grupo Tristão, Sérgio Tristão, ressaltando que novas áreas cultivadas no estado estão sendo implantadas com “muita tecnologia” e irrigação, além de haver espaço para expansões adicionais em pastagens degradadas, respeitando legislações ambientais como a EUDR, da União Europeia.
O aumento da produção do conilon no Brasil tem surpreendido os integrantes do mercado global, à medida que os produtores locais estão investindo após os preços atingirem níveis recordes, em parte devido a uma oferta reduzida do Vietnã no ano passado.
Atualmente, o grupo Tristão possui um armazém na Grande Vitória, que fica distante da principal região produtora de conilon, no norte do Espírito Santo, e precisa realizar exportações através dos portos de Santos, Rio de Janeiro e Sepetiba. Esse processo é mais caro, pois o produto é transportado por cabotagem até esses locais antes de seguir pelo Oceano Atlântico em navios maiores, explicou Tristão à Reuters durante o Coffee Dinner & Summit, promovido pelo conselho de exportadores brasileiros Cecafé.
O novo porto Imetame, localizado em Aracruz (ES), promete alterar essa situação ao iniciar operações em 2027, conforme mencionou o empresário.
Tristão planeja construir o novo armazém de café nas proximidades do porto para otimizar a logística e também espera obter vantagens tributárias, uma vez que o empreendimento estará na área da Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste (Sudene), garantindo incentivos fiscais.
“Vamos adquirir um terreno próximo ao porto com os benefícios da Sudene e projetar ali o nosso futuro”, afirmou Tristão, cujo grupo familiar completará 90 anos em 2025.
A empresa foca na exportação, com grãos verdes (arábica e conilon) e café solúvel, que é tradicionalmente produzido com grãos conilon.
O ARMAZÉM
A empresa espera ter um plano finalizado até o final do semestre para iniciar os investimentos na construção do armazém em 2026. O projeto será “tipo Lego”, sendo construído gradualmente, conforme Tristão, devido às altas taxas de juros atuais que encarecem os financiamentos.
“Queremos um armazém grande para receber o café do produtor mesmo antes da compra. Assim, ele pode deixar o café armazenado até o momento da venda, o que nos permitirá ter uma melhor rastreabilidade”, disse o empresário, lembrando que a companhia estará mais próxima dos produtores de conilon, cuja produção se concentra mais ao norte do estado.
Ele optou por não revelar valores sobre o investimento.
No momento, o grupo possui um armazém com capacidade para cerca de 300 mil sacas no Espírito Santo e outro em Varginha (MG).
“Poderíamos estar completando as primeiras etapas do novo armazém em 2027, quando o porto já estiver em funcionamento”, afirmou.
Além dos tradicionais destinos de exportação, como Estados Unidos, Japão e Europa, Tristão mencionou a Indonésia e a China como novos demandantes do café brasileiro, uma demanda que também tem estimulado a produção local.
(Por Roberto Samora)