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Guia Prático: Manejo Integrado de Pragas (MIP) para a Broca e a Ferrugem na Região de Manhuaçu

A cafeicultura da região de Manhuaçu e das Matas de Minas enfrenta desafios constantes impostos por duas das principais ameaças à produtividade e qualidade do café: a broca-do-café (Hypothenemus hampei) e a ferrugem-do-cafeeiro (Hemileia vastatrix). Estas pragas são responsáveis por perdas econômicas significativas que podem comprometer a rentabilidade de toda a safra, afetando desde pequenos produtores familiares até grandes propriedades da região.

A região das Matas de Minas, formada por 63 municípios produtores de café localizados predominantemente na Zona da Mata mineira, apresenta características climáticas e topográficas que, embora ideais para a produção de cafés de alta qualidade, também criam condições favoráveis ao desenvolvimento dessas pragas. Com altitude média de 697 metros e clima classificado predominantemente como Cwa (clima temperado quente com inverno seco), a região experimenta períodos de alta umidade e temperaturas adequadas que favorecem especialmente a proliferação da ferrugem durante os meses mais úmidos.

Nas Matas de Minas e no Sul do Espírito Santo, a combinação de queda de temperatura com alta umidade cria o ambiente perfeito para a disseminação da ferrugem, tornando a incidência desta doença particularmente elevada nas lavouras de café das montanhas. Da mesma forma, a broca-do-café encontra condições propícias para se estabelecer e causar danos significativos aos frutos, resultando em perda de peso dos grãos, queda prematura e comprometimento da qualidade final do produto.

Diante deste cenário, o Manejo Integrado de Pragas (MIP) surge como a estratégia mais eficiente e sustentável para o controle dessas ameaças. Diferente do controle químico convencional, que se baseia exclusivamente na aplicação de defensivos agrícolas, o MIP é um processo de tomada de decisão fundamentado em conhecimento científico que busca minimizar perdas econômicas por meio da integração de múltiplas estratégias de controle: cultural, biológico, químico e genético.

Pesquisas recentes demonstram que a adoção do MIP pode reduzir o uso de pesticidas em até 60% sem comprometer a produtividade, trazendo benefícios econômicos, ambientais e sociais para a cafeicultura. A Embrapa Café lançou recentemente publicações atualizadas sobre o tema, reforçando a importância dessa abordagem integrada para a sustentabilidade da atividade cafeeira no Brasil.
Este guia prático foi desenvolvido especialmente para os produtores de Manhuaçu e região, oferecendo informações técnicas, estratégias aplicáveis e um calendário de manejo adaptado às condições locais. O objetivo é capacitar o cafeicultor a tomar decisões assertivas, reduzir custos com defensivos, preservar o meio ambiente e garantir a produtividade e qualidade do café das Matas de Minas.

1. Conhecendo as Pragas: Biologia e Comportamento

1.1 Broca-do-Café (Hypothenemus hampei)Broca-do-Café: sintomas, manejo, tempo de vida | Agro Bayer

A broca-do-café é um pequeno besouro de cor preta que mede aproximadamente 1,5 a 2 mm de comprimento. Trata-se de uma praga de extrema importância que atinge todas as regiões produtoras de café do mundo, sendo considerada a principal praga da cafeicultura global.

Ciclo de Vida

O ciclo de vida completo da broca-do-café dura em média de 24 a 45 dias, dependendo das condições climáticas. A fêmea adulta perfura o fruto do café, geralmente pela região da coroa (disco), e penetra até alcançar as sementes (grãos), onde deposita seus ovos. Uma única fêmea pode colocar de 30 a 50 ovos durante sua vida. As larvas se desenvolvem alimentando-se das sementes, passando por quatro estádios larvais antes de se transformarem em pupas e, posteriormente, em adultos.

Condições Favoráveis

A broca se desenvolve melhor em temperaturas entre 20°C e 30°C e umidade relativa acima de 70%. Na região de Manhuaçu, as condições climáticas durante grande parte do ano são favoráveis ao desenvolvimento da praga, especialmente nos períodos de maior umidade. A altitude variada da região (entre 400 e 1.000 metros na maior parte da área) também influencia a dinâmica populacional da broca, com diferentes níveis de infestação conforme o microclima local.

Sintomas e Danos

Os principais sintomas do ataque da broca incluem a presença de um pequeno orifício circular na região da coroa do fruto, por onde a fêmea penetrou. Internamente, as sementes apresentam galerias escavadas pelas larvas, resultando em perda de peso, queda prematura dos frutos e comprometimento da qualidade do café. Grãos brocados apresentam defeitos que reduzem significativamente o valor comercial do produto, podendo desclassificar o lote para categorias inferiores.
As perdas causadas pela broca podem variar de 10% a 80% da produção, dependendo do nível de infestação e das medidas de controle adotadas. Além da perda quantitativa, há um impacto direto na qualidade da bebida, uma vez que grãos brocados favorecem a fermentação indesejada e o desenvolvimento de sabores desagradáveis.

1.2 Ferrugem-do-Cafeeiro (Hemileia vastatrix)
Fitopatologia – Fungos antagonistas são promessa para o manejo sustentável  da ferrugem do cafeeiro

A ferrugem-do-cafeeiro é uma doença fúngica que representa uma das principais ameaças à cafeicultura mundial. Estima-se que a ferrugem cause perdas econômicas de um a dois bilhões de dólares anualmente em todo o mundo, sendo um dos principais fatores limitantes da produção de café arábica.

Ciclo de Vida e Disseminação

O fungo Hemileia vastatrix produz esporos alaranjados que são facilmente disseminados pelo vento, pela chuva e por respingos de água. Quando os esporos encontram condições favoráveis (folhas molhadas e temperaturas entre 21°C e 25°C), germinam e penetram nos tecidos foliares através dos estômatos. O período de incubação varia de 20 a 40 dias, após o qual surgem as primeiras lesões visíveis.

Condições Favoráveis nas Matas de Minas

A região das Matas de Minas apresenta condições particularmente favoráveis ao desenvolvimento da ferrugem. A combinação de queda de temperatura com alta umidade, característica das áreas de montanha, cria o ambiente perfeito para a disseminação do fungo. A incidência da ferrugem costuma ser maior nas lavouras de café das montanhas, especialmente nas Matas de Minas e nas Montanhas Capixabas, onde a formação de nuvens orográficas mantém as folhas úmidas por períodos prolongados.
Nas áreas mais altas da região, acima de 1.000 metros (como nas serras do Brigadeiro e do Caparaó), o clima Cwb (temperado úmido com inverno seco e verão ameno) favorece a retenção de umidade nas encostas, prolongando o período de molhamento foliar e aumentando o risco de infecção.

Sintomas e Danos

Os sintomas iniciais da ferrugem são pequenas manchas amareladas na face superior das folhas. Com a evolução da doença, essas manchas aumentam de tamanho e, na face inferior das folhas, surge uma massa pulverulenta de coloração alaranjada, composta pelos esporos do fungo. Em estágios avançados, as folhas infectadas secam e caem prematuramente, reduzindo drasticamente a capacidade fotossintética da planta.
A desfolha causada pela ferrugem resulta em diversos impactos negativos: redução da produtividade na safra atual e nas safras seguintes, enfraquecimento das plantas, maior suscetibilidade a outras pragas e doenças, e comprometimento da qualidade dos grãos. Em casos severos, a ferrugem pode causar perdas de até 50% da produção e enfraquecer permanentemente a lavoura.

2. O que é Manejo Integrado de Pragas (MIP)?

O Manejo Integrado de Pragas é uma abordagem holística e científica para o controle de pragas e doenças na agricultura. Diferente do modelo convencional, que se baseia quase exclusivamente na aplicação calendário de defensivos químicos, o MIP propõe a integração de múltiplas estratégias de controle de forma racional, econômica e ambientalmente sustentável.

Princípios Fundamentais do MIP

O MIP se fundamenta em quatro princípios básicos que orientam todas as decisões de manejo:
1. Conhecimento da praga e do agroecossistema: Compreender a biologia, o comportamento e a dinâmica populacional das pragas, bem como as interações ecológicas no cafezal, é essencial para tomar decisões assertivas. Isso inclui conhecer os inimigos naturais, as condições climáticas favoráveis e os fatores que influenciam a ocorrência das pragas.
2. Monitoramento constante: O acompanhamento regular da lavoura permite identificar precocemente a presença das pragas e avaliar o nível de infestação. O monitoramento é a base para a tomada de decisão sobre quando e como intervir, evitando aplicações desnecessárias de defensivos.
3. Tomada de decisão baseada em níveis de ação: Nem toda presença de praga justifica uma intervenção. O MIP estabelece níveis de ação (ou níveis de dano econômico) que indicam quando a população da praga atingiu um patamar que justifica economicamente uma medida de controle. Abaixo desse nível, os inimigos naturais e outros fatores de mortalidade natural podem manter a população sob controle.
4. Integração de métodos de controle: O MIP combina estratégias culturais, biológicas, químicas e genéticas de forma complementar, potencializando a eficiência do controle e reduzindo a dependência de defensivos químicos. Cada método tem seu papel e momento adequado de aplicação.

Benefícios do MIP para a Cafeicultura de Manhuaçu

A adoção do Manejo Integrado de Pragas traz benefícios significativos para os produtores da região de Manhuaçu:
Econômicos: Redução de até 60% no uso de pesticidas, diminuindo os custos de produção. Menor número de aplicações significa economia em produtos, combustível, mão de obra e manutenção de equipamentos. Além disso, o controle mais eficiente resulta em menor perda de produção e melhor qualidade do café, aumentando a rentabilidade.
Ambientais: Menor contaminação do solo, da água e do ar. Preservação dos inimigos naturais das pragas, que desempenham papel fundamental no equilíbrio do agroecossistema. Redução do impacto sobre a biodiversidade local, especialmente importante em uma região de Mata Atlântica como as Matas de Minas.
Sociais: Menor exposição dos trabalhadores rurais a produtos químicos, reduzindo riscos à saúde. Produção de café mais sustentável e alinhada às exigências de certificações e mercados diferenciados, que valorizam práticas de baixo impacto ambiental.
Técnicos: Controle mais duradouro e eficiente das pragas, uma vez que a integração de métodos dificulta o desenvolvimento de resistência. Maior conhecimento técnico por parte do produtor, que passa a compreender melhor a dinâmica da lavoura e a tomar decisões mais assertivas.

3. Estratégias de Controle Integrado

O sucesso do MIP depende da combinação adequada de diferentes estratégias de controle, aplicadas no momento certo e de forma complementar. A seguir, detalhamos cada uma dessas estratégias adaptadas à realidade da cafeicultura de Manhuaçu.

3.1 Controle Cultural

O controle cultural consiste em práticas de manejo que tornam o ambiente menos favorável ao desenvolvimento das pragas, reduzindo sua população e os danos causados.

Repasse e Arruação

O repasse é a colheita de todos os frutos remanescentes após a colheita principal, incluindo frutos secos, verdes e brocados que ficaram na planta. Esta prática é fundamental para o controle da broca-do-café, pois elimina o principal local de reprodução e sobrevivência da praga entre safras. Os frutos que permanecem na planta após a colheita servem como abrigo para as fêmeas da broca, que ali se reproduzem e darão origem à população que atacará a próxima safra.
A arruação complementa o repasse, consistindo na coleta de todos os frutos caídos no chão. Esses frutos também servem como refúgio para a broca e devem ser recolhidos e destruídos adequadamente.
Recomendação para Manhuaçu: O repasse deve ser realizado logo após o término da colheita principal, preferencialmente até 30 dias depois. Na região de Manhuaçu, onde a colheita geralmente ocorre entre maio e agosto, o repasse deve ser concluído até setembro. Os frutos recolhidos devem ser ensacados e expostos ao sol por alguns dias para matar as brocas, ou então enterrados em valas profundas.

Manejo da Sombra e Aeração

Lavouras muito adensadas e com excesso de sombra mantêm a umidade foliar por períodos prolongados, favorecendo a ferrugem. O manejo adequado da densidade de plantio e a poda de árvores de sombreamento excessivo melhoram a circulação de ar e reduzem o período de molhamento foliar.
Recomendação para Manhuaçu: Nas áreas de maior altitude da região (acima de 800 metros), onde a umidade é naturalmente mais elevada devido às nuvens orográficas, é especialmente importante manter um bom espaçamento entre as plantas e realizar podas de renovação quando necessário. O espaçamento ideal varia conforme a variedade, mas geralmente recomenda-se de 3,0 a 3,5 metros entre linhas e 0,5 a 0,7 metros entre plantas.

Nutrição Equilibrada

Plantas bem nutridas são mais resistentes ao ataque de pragas e doenças. A adubação equilibrada, baseada em análise de solo, fortalece o sistema imunológico das plantas e reduz a suscetibilidade à ferrugem. Nutrientes como cobre, enxofre e zinco atuam como deterrentes naturais de doenças fúngicas.
Recomendação para Manhuaçu: Realizar análise de solo a cada dois anos e seguir as recomendações de adubação. Dar atenção especial ao fornecimento de micronutrientes, especialmente em áreas de altitude mais elevada onde o solo pode apresentar deficiências. A aplicação foliar de cobre e enxofre pode ser integrada ao programa de controle da ferrugem.

Manejo de Plantas Daninhas

O controle adequado de plantas daninhas melhora a aeração da lavoura e reduz a umidade no microclima do cafezal, tornando o ambiente menos favorável à ferrugem. Além disso, facilita as operações de colheita e repasse.

3.2 Controle Biológico

O controle biológico utiliza organismos vivos (predadores, parasitoides, patógenos) para reduzir a população das pragas. É uma estratégia sustentável e de longo prazo que se integra perfeitamente ao MIP.

Beauveria bassiana para Controle da Broca

O fungo entomopatogênico Beauveria bassiana é o principal agente de controle biológico da broca-do-café. Quando aplicado na lavoura, os esporos do fungo aderem ao corpo da broca, germinam e penetram no inseto, causando sua morte em poucos dias. Pesquisas desenvolvidas no IF Sudeste MG – Campus Manhuaçu têm estudado a época ideal de aplicação de Beauveria bassiana e sua associação com produtos desalojantes para potencializar o controle.
Como aplicar: O fungo é aplicado via pulverização nas plantas, preferencialmente no início da manhã ou no final da tarde, quando a umidade relativa está mais elevada (acima de 70%). A dose recomendada varia conforme o produto comercial, mas geralmente situa-se entre 1 a 2 kg/ha. São necessárias de 2 a 3 aplicações durante o período crítico de infestação.
Época de aplicação em Manhuaçu: A aplicação deve iniciar no período de expansão dos frutos (dezembro a janeiro) e ser repetida a cada 30-45 dias, conforme o monitoramento. Em áreas com histórico de alta infestação, uma aplicação adicional pode ser realizada após a colheita, visando reduzir a população de brocas nos frutos remanescentes.

Controle Biológico da Ferrugem

Pesquisas recentes no Brasil estão desenvolvendo soluções sustentáveis para o controle da ferrugem utilizando fungos antagonistas e bactérias que inibem o crescimento de Hemileia vastatrix. Isolados bacterianos, como o B157, têm demonstrado potencial como agentes de biocontrole, especialmente para sistemas orgânicos.
Embora ainda em fase de desenvolvimento comercial, esses produtos representam uma promessa para o futuro do controle biológico da ferrugem. Produtores interessados em sistemas orgânicos ou de baixo impacto podem acompanhar as novidades junto à Embrapa Café e instituições de pesquisa.

Preservação de Inimigos Naturais

Além dos agentes de controle biológico aplicados, é fundamental preservar os inimigos naturais que ocorrem naturalmente na lavoura. Vespas parasitoides, formigas predadoras, aranhas e outros organismos contribuem para o controle natural da broca e de outras pragas secundárias.
Recomendação: Evitar aplicações desnecessárias de inseticidas de amplo espectro, que eliminam tanto as pragas quanto os inimigos naturais. Quando o controle químico for necessário, dar preferência a produtos seletivos e aplicar apenas nas áreas e momentos em que o nível de ação foi atingido.

3.3 Controle Químico Racional

O controle químico, quando necessário, deve ser realizado de forma racional, baseado no monitoramento e nos níveis de ação estabelecidos. O objetivo não é eliminar completamente as pragas, mas mantê-las abaixo do nível de dano econômico.

Controle Químico da Broca

Os inseticidas para controle da broca devem ser aplicados quando o monitoramento indicar níveis de infestação acima de 3% a 5% dos frutos. Produtos à base de endossulfan (onde ainda permitido), cipermetrina, clorpirifós e outros princípios ativos registrados para a cultura podem ser utilizados.
Estratégia de aplicação: A aplicação deve ser direcionada aos frutos, que são o alvo da broca. O momento ideal é quando os frutos estão no estágio de “chumbinho” a “expansão”, antes que a broca penetre profundamente nas sementes. Aplicações tardias, com frutos já em maturação, têm eficiência reduzida.
Associação com desalojantes: Produtos à base de álcool etílico ou outros desalojantes podem ser aplicados antes do inseticida para forçar a saída das brocas que já estão dentro dos frutos, aumentando a eficiência do controle.

Controle Químico da Ferrugem

Fungicidas à base de cobre (oxicloreto de cobre, hidróxido de cobre) e triazóis (ciproconazol, tebuconazol, epoxiconazol) são os principais produtos utilizados para o controle da ferrugem. Estrobilurinas (azoxistrobina, piraclostrobina) também apresentam boa eficiência.
Estratégia de aplicação: O controle da ferrugem deve ser preventivo, iniciando antes do aparecimento dos sintomas. O momento crítico para aplicação na região de Manhuaçu é entre outubro e março, período de maior umidade e temperatura favorável ao fungo.
Número de aplicações: Em áreas de baixa pressão da doença, 2 a 3 aplicações podem ser suficientes. Em áreas de montanha com alta umidade (acima de 800 metros), podem ser necessárias 4 a 5 aplicações. O monitoramento é essencial para definir a necessidade real.
Rotação de princípios ativos: Para evitar o desenvolvimento de resistência, é fundamental alternar fungicidas com diferentes modos de ação. Não repetir o mesmo princípio ativo em aplicações consecutivas.

Boas Práticas de Aplicação

Calibrar adequadamente os equipamentos de pulverização
Aplicar nos horários de menor temperatura e vento (início da manhã ou final da tarde)
Utilizar volume de calda adequado para garantir boa cobertura (300 a 600 L/ha)
Respeitar o período de carência dos produtos
Utilizar Equipamentos de Proteção Individual (EPIs)
Descartar adequadamente as embalagens vazias

3.4 Controle Genético

O uso de variedades resistentes ou tolerantes é uma das estratégias mais eficientes e sustentáveis do MIP, pois reduz a necessidade de intervenções com defensivos.

Variedades Resistentes à Ferrugem

A Embrapa e outras instituições de pesquisa desenvolveram diversas cultivares de café arábica resistentes à ferrugem, especialmente recomendadas para a região das Matas de Minas. Entre as principais, destacam-se:
Catucaí Amarelo e Vermelho: Apresentam boa resistência à ferrugem, alta produtividade e excelente qualidade de bebida. São bem adaptadas às condições de altitude da região de Manhuaçu.
Arara e Acauã: Cultivares recentemente desenvolvidas com alta resistência à ferrugem e ótima produtividade. Recomendadas para renovação de lavouras.
Obatã IAC 1669-20: Variedade resistente à ferrugem com boa adaptação a diferentes altitudes.
Icatu: Híbrido de Coffea arabica com Coffea canephora, apresenta resistência à ferrugem e boa produtividade.
Recomendação para Manhuaçu: Produtores que estão renovando ou implantando novas lavouras devem priorizar variedades resistentes à ferrugem. Mesmo com a resistência genética, o monitoramento e outras práticas do MIP devem ser mantidos, pois a resistência pode ser quebrada por novas raças do fungo.

Onde Adquirir Mudas Certificadas

É fundamental adquirir mudas certificadas de viveiristas registrados, garantindo a qualidade genética e fitossanitária do material. Na região, consultar a EPAMIG, cooperativas locais e viveiros credenciados.

4. Monitoramento: A Base do MIP

O monitoramento é a etapa mais importante do Manejo Integrado de Pragas, pois fornece as informações necessárias para a tomada de decisão sobre quando e como intervir.

4.1 Como Monitorar a Broca-do-Café

O monitoramento da broca deve ser realizado quinzenalmente durante o período de frutificação e semanalmente durante o período crítico de infestação (expansão dos frutos até a colheita).

Metodologia

1.Dividir a lavoura em talhões: Áreas homogêneas quanto à variedade, idade e histórico de infestação.
2.Definir pontos de amostragem: Selecionar aleatoriamente 10 plantas por talhão (ou 1 planta a cada hectare em lavouras maiores).
3.Coletar amostras: Em cada planta, coletar 100 frutos (ou todos os frutos de um ramo produtivo), distribuídos em diferentes alturas e faces da planta.
4.Avaliar a infestação: Abrir os frutos e verificar a presença de brocas (adultos, larvas ou galerias). Anotar o número de frutos infestados.
5.Calcular o percentual de infestação:

% Infestação = (Número de frutos brocados / Total de frutos avaliados) x 100

Nível de Ação

Até 3% de infestação: Nível baixo. Manter monitoramento e práticas culturais.
Entre 3% e 5%: Nível de atenção. Intensificar monitoramento e considerar controle biológico.
Acima de 5%: Nível de ação. Implementar controle biológico e/ou químico imediatamente.

4.2 Como Monitorar a Ferrugem

O monitoramento da ferrugem deve ser realizado mensalmente durante o ano todo, intensificando para quinzenal durante o período chuvoso (outubro a março).

Metodologia

1.Dividir a lavoura em talhões: Considerar altitude, exposição solar e histórico da doença.
2.Definir pontos de amostragem: Selecionar aleatoriamente 10 plantas por talhão.
3.Avaliar as folhas: Em cada planta, examinar 100 folhas do terço médio, distribuídas em diferentes ramos.
4.Identificar sintomas: Procurar manchas amareladas na face superior e massa alaranjada de esporos na face inferior das folhas.
5.Calcular a incidência:

% Incidência = (Número de folhas com sintomas / Total de folhas avaliadas) x 100

6.Avaliar a severidade: Em folhas infectadas, estimar visualmente a porcentagem da área foliar afetada.

Nível de Ação

Até 5% de incidência: Nível baixo. Manter monitoramento.
Entre 5% e 10%: Nível de atenção. Considerar aplicação preventiva de fungicida.
Acima de 10%: Nível de ação. Aplicar fungicida imediatamente e intensificar monitoramento.
Observação: Em áreas de alta umidade (acima de 800 metros) e em variedades suscetíveis, o nível de ação pode ser reduzido para 5% de incidência.

4.3 Registro e Análise dos Dados

Manter um caderno de campo ou planilha digital com os registros de monitoramento é fundamental para acompanhar a evolução das pragas ao longo do tempo e avaliar a eficiência das medidas de controle adotadas. Anotar:
Data do monitoramento
Talhão avaliado
Percentual de infestação/incidência
Estágio fenológico da cultura
Condições climáticas
Medidas de controle aplicadas

5. Calendário de Manejo para Manhuaçu

O calendário a seguir foi desenvolvido considerando as condições climáticas e o ciclo produtivo do café na região de Manhuaçu. Ele serve como guia geral, devendo ser adaptado conforme o monitoramento de cada propriedade.
Mês
Estágio da Cultura
Atividades de Manejo
Setembro
Floração
– Realizar repasse e arruação após a colheita<br>– Aplicar Beauveria bassiana nos frutos remanescentes<br>– Iniciar monitoramento de ferrugem
Outubro
Início da frutificação (chumbinho)
– Primeira aplicação preventiva de fungicida para ferrugem (se necessário)<br>– Monitoramento quinzenal de ferrugem<br>– Adubação de produção
Novembro
Expansão dos frutos
– Monitoramento semanal de broca<br>– Segunda aplicação de fungicida (se necessário)<br>– Aplicar Beauveria bassiana se infestação de broca > 3%
Dezembro
Granação
– Intensificar monitoramento de broca<br>– Terceira aplicação de fungicida (se necessário)<br>– Controle de plantas daninhas
Janeiro
Granação/Maturação
– Monitoramento semanal de broca<br>– Aplicação de inseticida se infestação > 5%<br>– Última aplicação de fungicida (se necessário)
Fevereiro
Maturação
– Monitoramento de broca<br>– Suspender aplicações químicas (período de carência)
Março
Maturação/Início da colheita
– Monitoramento de broca<br>– Planejar a colheita
Abril-Agosto
Colheita
– Realizar colheita seletiva<br>– Evitar deixar frutos na planta<br>– Monitoramento de ferrugem (mensal)

6. Custos e Benefícios do MIP

A adoção do Manejo Integrado de Pragas representa um investimento em conhecimento e mudança de práticas, mas os benefícios econômicos e ambientais compensam amplamente os esforços.

Análise Econômica Comparativa

Sistema Convencional (controle químico calendário):
6 a 8 aplicações de inseticidas/fungicidas por safra
Custo médio: R$ 150 a R$ 200 por aplicação/hectare
Custo total: R$ 900 a R$ 1.600/ha/safra
Perdas por infestação: 10% a 20% (controle menos eficiente)
Sistema MIP:
2 a 4 aplicações de defensivos (apenas quando necessário)
2 a 3 aplicações de Beauveria bassiana: R$ 80 a R$ 120/ha
Custo com defensivos químicos: R$ 300 a R$ 600/ha
Custo com monitoramento: R$ 100 a R$ 150/ha
Custo total: R$ 480 a R$ 870/ha/safra
Perdas por infestação: 3% a 8% (controle mais eficiente)
Economia estimada: R$ 420 a R$ 730 por hectare por safra, além de menor perda de produção e melhor qualidade do café.

Benefícios Intangíveis

Além da economia direta, o MIP proporciona:
Maior sustentabilidade da atividade
Acesso a certificações e mercados diferenciados
Preservação da saúde do trabalhador rural
Conservação do meio ambiente
Maior conhecimento técnico do produtor

7. Casos de Sucesso em Manhuaçu

Diversos produtores da região de Manhuaçu já adotam práticas de Manejo Integrado de Pragas com resultados expressivos. Embora os dados específicos sejam limitados, relatos de técnicos e extensionistas indicam que propriedades que implementaram o MIP conseguiram:
Reduzir em até 50% o número de aplicações de defensivos
Diminuir os custos de produção em 20% a 30%
Melhorar a qualidade do café, alcançando pontuações mais altas em análises sensoriais
Obter certificações de sustentabilidade, acessando mercados que pagam prêmios de até 20% acima do preço convencional
O IF Sudeste MG – Campus Manhuaçu tem desenvolvido pesquisas sobre o manejo da broca-do-café, incluindo estudos sobre a época de aplicação de Beauveria bassiana e associação com desalojantes, contribuindo para o aprimoramento das técnicas de MIP adaptadas à realidade local.

8. Desafios e Como Superá-los

A implementação do MIP pode apresentar alguns desafios, especialmente para produtores acostumados com o sistema convencional de controle.

Principais Desafios

1. Mudança de mentalidade: Abandonar a aplicação calendário e confiar no monitoramento requer uma mudança cultural.

Solução: Capacitação técnica, participação em dias de campo e acompanhamento de técnicos especializados.

2. Necessidade de monitoramento constante: O monitoramento demanda tempo e disciplina.

Solução: Treinar funcionários para realizar o monitoramento, utilizar aplicativos de gestão rural e estabelecer uma rotina semanal.

3. Disponibilidade de insumos biológicos: Nem sempre é fácil encontrar produtos biológicos no mercado local.

Solução: Planejar as compras com antecedência, buscar fornecedores confiáveis e, quando possível, produzir Beauveria bassiana na propriedade (com orientação técnica).

4. Resistência de vizinhos: Se propriedades vizinhas não adotam o MIP, a pressão de pragas pode ser maior.

Solução: Promover a adoção coletiva do MIP na região, através de associações de produtores e cooperativas.

9. Recursos e Apoio Técnico em Manhuaçu

Os produtores de Manhuaçu e região contam com diversas instituições que oferecem suporte técnico para a implementação do MIP:
IF Sudeste MG – Campus Manhuaçu: Realiza pesquisas sobre cafeicultura sustentável e oferece cursos e capacitações.
EMATER-MG: Serviço de extensão rural com técnicos especializados em cafeicultura.
EPAMIG: Empresa de pesquisa agropecuária de Minas Gerais, referência em pesquisas sobre café.
Cooperativas locais: Muitas cooperativas oferecem assistência técnica aos cooperados.
Sindicatos rurais e associações de produtores: Promovem dias de campo, palestras e capacitações.

O Manejo Integrado de Pragas representa o caminho mais eficiente, econômico e sustentável para o controle da broca-do-café e da ferrugem-do-cafeeiro na região de Manhuaçu e Matas de Minas. Ao integrar estratégias culturais, biológicas, químicas e genéticas, o MIP permite reduzir significativamente o uso de defensivos agrícolas, diminuir custos de produção, preservar o meio ambiente e garantir a qualidade e a produtividade do café.

As condições climáticas e topográficas da região, embora favoráveis à produção de cafés de excelência, também criam um ambiente propício ao desenvolvimento dessas pragas. A combinação de alta umidade, temperaturas adequadas e relevo montanhoso exige que os produtores adotem práticas de manejo mais sofisticadas e baseadas em conhecimento técnico.
O monitoramento constante é a chave para o sucesso do MIP. Ao acompanhar regularmente a evolução das pragas na lavoura, o produtor toma decisões assertivas sobre quando e como intervir, evitando aplicações desnecessárias e garantindo a eficiência do controle quando ele é realmente necessário.
A adoção do MIP não é apenas uma questão técnica, mas também uma mudança de mentalidade. Requer disciplina, conhecimento e confiança no processo. No entanto, os resultados compensam: produtores que implementaram o MIP relatam economia de custos, melhoria na qualidade do café e maior sustentabilidade da atividade.
A cafeicultura de Manhuaçu tem um potencial enorme para se consolidar como referência em produção sustentável e de alta qualidade. O Manejo Integrado de Pragas é uma ferramenta fundamental para alcançar esse objetivo, garantindo a competitividade e a longevidade da atividade cafeeira na região.
O futuro da cafeicultura é integrado, sustentável e baseado em conhecimento. O MIP é o caminho.

Referências

1.Embrapa Café. Manejo integrado de pragas e doenças do café arábica. Brasília: Embrapa, 2024.
2.Embrapa Café. Manejo integrado de pragas e doenças dos cafés conilon e robusta. Brasília: Embrapa, 2025.
3.Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA). Manejo Integrado de Pragas – Broca do Café. Brasília: CNA, 2025.
4.Ferreira, W.P.M. et al. Região das Matas de Minas tem clima ideal para produção de café. CaféPoint, 2016.
5.Cooxupé. Broca-do-café: práticas são importantes para controle. Hub do Café Cooxupé, 2025.
6.Cooxupé. Saiba mais sobre a ferrugem que acomete as plantas do cafeeiro. Hub do Café Cooxupé, 2025.
7.Sera, G.H. et al. Coffee Leaf Rust in Brazil: Historical Events, Current Situation, and Control Measures. Agronomy, 2022.
8.Talhinhas, P. et al. The coffee leaf rust pathogen Hemileia vastatrix. Molecular Plant Pathology, 2017.
9.The Zero Waste Coffee Project. Integrated Pest Management in Coffee – A case study in California. 2025.
10.IF Sudeste MG – Campus Manhuaçu. Pesquisas em Cafeicultura Sustentável. Manhuaçu, 2022.
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